sábado, 31 de janeiro de 2015



Mineração, bebidas e alimentos bancaram candidatos à presidência da Câmara
Bancos e construtoras também financiaram Cunha, Chinaglia e Delgado

Quem bancou os candidatos à presidência da Câmara

Mineração, bebidas, alimentos, bancos e construtoras financiaram 65% da campanha de Eduardo Cunha, Chinaglia e Júlio Delgado à reeleição. Investigadas na Lava Jato também contribuíram. Veja a lista completa dos doadores dos quatro deputados
Gabriela Korossy/Ag. Câmara

Com doadores em comum, Chinaglia e Eduardo Cunha estão entre os deputados que mais gastaram na última eleição
Cinco dos mais poderosos setores da economia brasileira financiaram a maior parte da campanha dos candidatos à presidência da Câmara nas eleições de outubro. Empresas de mineração, indústrias de bebidas e alimentos, instituições financeiras e construtoras foram responsáveis por 65% das contribuições declaradas pelos postulantes ao comando da Casa. Os beneficiários foram os deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Júlio Delgado (PSB-MG). Chico Alencar (Psol-RJ), o quarto concorrente, foi o único a informar à Justiça eleitoral que não recebeu qualquer centavo de empresas. Todas as suas doações vieram de pessoas físicas, inclusive dele próprio e de assessores. Quem financiou a eleição de Eduardo Cunha
Quem financiou a eleição de Arlindo Chinaglia
Juntos, os quatro candidatos declararam ter arrecadado R$ 13,6 milhões. Desse total, R$ 2,3 milhões foram transferidos por empresas de mineração (17%), R$ 2 milhões (15%) da indústria de bebidas, R$ 1,5 milhão (11%) da área de alimentos, R$ 1,6 milhão (12%) de instituições financeiras e R$ 1,3 milhão (10%) de empreiteiras. Entre elas, quatro investigadas na Operação Lava Jato, que repassaram quase R$ 600 mil a Chinaglia e Delgado: a UTC Engenharia, a Odebrecht, a Andrade Gutierrez e a Queiroz Galvão.
Chinaglia recebeu R$ 150 mil da UTC e R$ 262,5 mil da Andrade Gutierrez. Esta também doou R$ 80 mil para Júlio Delgado. O deputado mineiro ainda recebeu R$ 100 mil da Queiroz Galvão Alimentos, que faz parte do grupo liderado pela empreiteira de mesmo nome. Não há nenhuma acusação de envolvimento desses parlamentares com as irregularidades investigadas; as doações foram legais e estão registradas na Justiça eleitoral.
Quem financiou a eleição de Júlio Delgado
Quem financiou a eleição de Chico Alencar
O preferido da mineração

Entre os candidatos, Eduardo Cunha foi o preferido do setor da mineração, que fez contribuições mais modestas para Chinaglia e Delgado. Dono da segunda campanha mais cara entre os 513 eleitos em outubro, segundo o TSE, o peemedebista foi agraciado com R$ 1,7 milhão de mineradoras. Isso representa 25% dos R$ 6,8 milhões declarados pelo deputado à Justiça eleitoral. Só Iracema Portella (PP-PI), com R$ 7 milhões, informou ter arrecadado mais do que ele em toda a Câmara.
Acusada na Operação SOS Cerrado, em 2009, de integrar a chamada máfia do carvão, em Minas Gerais, a Rima Industrial Ltda., líder na produção e comercialização de ligas à base de silício no Brasil, foi a principal financiadora de Eduardo Cunha, empatada com a CRBS, da Ambev. Cada uma delas repassou R$ 1 milhão ao peemedebista.
A Rima, que também doou R$ 100 mil para Chinaglia, foi alvo de um procedimento administrativo tributário que resultou na autuação do grupo em R$ 191 milhões. O caso levou o deputado Bernardo Santana (PR-MG), aliado de Cunha, a virar réu no Supremo Tribunal Federal (STF). Bernardo era diretor do grupo, pertencente ao seu sogro, quando a empresa foi acusada de fornecer carvão vegetal extraído de mata nativa para empresas siderúrgicas de Minas Gerais. O processo, no entanto, acabou derrubado pelo próprio Supremo, que acolheu recurso do deputado, que questionava a legalidade da operação, iniciada pelo Ministério Público.
Além da Rima, a Mineração Corumbaense Reunidas S/A, controlada pela Vale e sediada em Mato Grosso do Sul, doou R$ 700 mil para Eduardo Cunha. A mineradora também repassou R$ 200 mil para Chinaglia.
Refrigerantes e bancos
Depois da mineração, o setor de bebidas foi o que mais doou para Eduardo Cunha. Foram R$ 1,55 milhão. Além do R$ 1 milhão transferido pela maior cervejaria do mundo, ele recebeu outros R$ 550 mil de duas fabricantes da Coca-Cola, a Recofarma Indústria do Amazonas e a Rio de Janeiro Refrescos.
As instituições financeiras aparecem no terceiro grupo de maiores colaboradores de Eduardo Cunha. Juntos, o Safra, o Santander, o Bradesco e o BTG Pactual doaram R$ 1,35 milhão para a reeleição do deputado fluminense. A segunda maior financiadora da campanha do peemedebista foi a Telemont Engenharia Telecomunicações, que lhe repassou, por intermédio do diretório estadual do PMDB, R$ 900 mil.
Café e empreiteiras
Com a 11ª campanha mais cara para a Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP) declarou ter arrecadado R$ 4,8 milhões em sua campanha eleitoral. O setor cafeeiro foi o principal financiador do petista. Doou R$ 1 milhão por meio de cinco empresas de produção, importação e exportação de café.  Desse segmento, a maior contribuição veio da Terra Forte Exportação e Importação de Café, com R$ 412,5 mil.
Apenas uma empresa doou mais que a Terra Forte ao petista: a Hypermarcas. O grupo, que reúne fabricantes de cosméticos, preservativos, medicamentos e produtos de limpeza, entre outros, colaborou com R$ 500 mil.
O segundo segmento mais importante para o financiamento de Chinaglia foi o da construção civil, com repasses de R$ 962,5 mil. Além da Andrade Gutierrez e da UTC, outras empresas do ramo também prestigiaram a campanha do petista, como a Contern Construtora e Comércio e a Serveng Civilsan, com R$ 237,5 mil cada.
A mineração também ajudou a reeleger Chinaglia, doando R$ 500 mil. Além dos R$ 100 mil da Rima Industrial, ele recebeu R$ 200 mil da Vale Energia e R$ 200 mil da Mineração Corumbaense Reunidas, também controlada pela Vale e financiadora de Cunha.
Empresa de Maluf
O setor sucroalcooleiro garantiu R$ 370 mil para a campanha do deputado paulista por meio de quatro empresas. A maior doação do segmento foi registrada pela Guarani S/A, com R$ 250 mil. Os fabricantes de bebida doaram R$ 155 mil. Na área de alimentos, o principal doador de Chinaglia foi o grupo JBS (Friboi), com R$ 237,5 mil. O valor é modesto para a totalidade das contribuições eleitorais do maior frigorífico do mundo e principal financiador das últimas eleições – a JBS doou R$ 352 milhões para candidatos em 2014.
O deputado paulista declarou, ainda, ter recebido R$ 200 mil da ECTX S/A, empresa originária da Eucatex, que tem entre seus acionistas o deputado Paulo Maluf (PP-SP), eleitor declarado do petista na disputa à presidência da Câmara. Entre os grandes grupos, Chinaglia ainda informou ter recebido R$ 50 mil do Itaú Unibanco e outros R$ 50 mil da Embraer.
Bebidas e construtoras
Júlio Delgado declarou ter arrecadado R$ 1,7 milhão para sua campanha à reeleição. A maior contribuição veio do setor de bebidas, que doou R$ 325 mil ao deputado. A Spal Indústria Brasileira de Bebidas, com R$ 225 mil, foi a responsável pela maior doação declarada por Delgado. Fabricante e distribuidora da Coca-Cola no Paraná e no interior de São Paulo, a Spal contribuiu com R$ 225 mil. Outros R$ 100 mil foram transferidos pela Londrina Bebidas, que pertence à Ambev.
As empreiteiras foram o segundo segmento que mais doou para Júlio. Foram R$ 290 mil doados por três empresas: a Andrade Gutierrez, a Odebrecht e a Juiz de Fora Engenharia. Da mineração, vieram R$ 100 mil da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM).
Júlio Delgado também informou ter recebido R$ 150 mil de instituições financeiras – Santander e Bradesco. Outros R$ 150 mil foram transferidos pela VAHRCAV Participações Ltda, proprietária do Shopping La Plage, em Guarujá (SP).
Ação entre amigos

O deputado declarou ter arrecadado R$ 180.746,65. Ao contrário de seus adversários na disputa pela presidência da Câmara, nenhum centavo de empresa. Todos os recursos foram doados por pessoas físicas. O próprio deputado foi o seu maior financiador individual. Chico informou ter desembolsado R$ 31.175. O restante saiu de contribuições de mais de 80 pessoas físicas. Um terço de toda a arrecadação de Chico foi levantada entre seus próprios assessores.
Como revelou a Revista Congresso em Foco, funcionários do parlamentar doaram R$ 66,7 mil para sua campanha à reeleição.  Segundo ele, não houve nenhuma imposição aos assessores, que contribuíram de espontânea vontade. A decisão, explicou o deputado, foi tomada após sua equipe e seu partido resolverem que não aceitariam contribuições de empresas.  “A campanha depende da contribuição do cidadão. É legal e normal porque aposta num projeto político”, disse à revista, na edição 13.
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segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Doações da JBS a políticos chegam a 18,5% de empréstimos com BNDES

Leandro Prazeres
Do UOL, em Brasília

  • Ana Paula Paiva - 24.fev.2010/Valor
    Frigorífico da JBS: maior exportadora de carne bovina e maior doadora nas eleições Frigorífico da JBS: maior exportadora de carne bovina e maior doadora nas eleições
A JBS, maior exportadora de carne bovina do mundo e dona da marca Friboi, doou a políticos e partidos 18,5% de tudo o que tomou emprestado do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) entre 2005 e 2014. Em 2014, a JBS doou R$ 366,8 milhões. PT, PMDB e PSDB foram os partidos mais beneficiados.
De acordo com o banco, o grupo tomou R$ 2,5 bilhões emprestados entre 2005 e 2014 -- os empréstimos foram liberados para operações como financiamento de exportações e compra de equipamentos. Desde que os recursos começaram a ser liberados, em 2005, a JBS já repassou R$ 463,4 milhões a políticos e partidos nas eleições de 2006, 2008, 2010 e 2014.
O Grupo JBS faturou em vendas R$ 92 bilhões em 2013 (últimos dados disponíveis). Desde 2006, o grupo figura entre um dos maiores doadores individuais de campanhas políticas do Brasil. Em 2010, a JBS ficou em terceiro lugar, com R$ 63 milhões. Em 2014, a JBS foi a maior doadora, seguida da construtora Odebrecht , que doou R$ 111 milhões, e do Bradesco, com doações de R$ 100 milhões.
Em 2006, um ano após o início dos empréstimos, foram R$ 12 milhões em doações. Quatro anos depois, foram R$ 63 milhões, e, em 2014, R$ 366,8 milhões, segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

O comprometimento da JBS com doações a políticos é tão grande que, somente para a eleição de 2014, a empresa doou 39,56% de todo o seu lucro líquido registrado em 2013, que foi de R$ 926,9 milhões. É como se, a cada R$ 100 de lucro, a JBS doasse R$ 39,5 para os caixas de campanhas de partidos e candidatos.
Para efeito de comparação, a Odebrecht, segunda colocada no ranking de doações neste ano, doou 22% de seu lucro líquido em 2013, que foi de R$ R$ 490,7 milhões. O Bradesco, terceiro colocado, doou apenas 0,83% de seu lucro líquido em 2013, que foi de R$ 12 bilhões. O lucro líquido é a diferença entre o que a empresa faturou e os seus custos operacionais (salários, tributos, impostos, etc).
 Especialistas ouvidos pelo UOL afirmam que, no Brasil, as doações para campanhas são 'investimentos' feitos pelas empresas para conseguir vantagens junto aos governos.
As elevadas doações feitas a políticos e partidos chamam atenção pela estreita relação que o grupo manteve com o BNDES, controlado pelo governo do PT desde 2003.
Em 2014, por exemplo, o PT foi o grande beneficiário das doações da empresa, com R$ 114,6 milhões, seguido pelo PMDB, com R$ 62,6 milhões, e pelo PSDB, com R$ 56,7 milhões.  Em 2010, o PT também liderou as doações da JBS, com R$ 13 milhões.
Foi na gestão petista que o BNDES emprestou R$ 2,5 bilhões (diretamente ou por meio de outros bancos) à JBS. Também foi na gestão petista que o BNDES investiu outros R$ 8,5 bilhões em operações de capitalização por meio da compra de ações do grupo. Hoje, o BNDES é dono de 24,6% do capital do Grupo JBS.
A suspeita de que parte do dinheiro emprestado pelo BNDES tenha sido destinada a políticos é descartada pelo BNDES. Procurado pelo UOL, o banco informou que os critérios adotados para a concessão de empréstimo à JBS foram "impessoais e de natureza técnica".
O BNDES disse ainda, por meio de sua assessoria de imprensa, que monitora como as empresas que recebem empréstimos investem o dinheiro e que equipes do banco fazem "visitas regulares ao empreendimento, conferindo o andamento do cronograma e a origem e especificação dos equipamentos adquiridos para o projeto".
Questionada sobre a natureza do relacionamento entre o PT e a JBS, a assessoria de imprensa da campanha à reeleição de Dilma Rousseff (PT) enviou nota dizendo que "todas as doações feitas ao comitê de campanha da candidata Dilma Rousseff têm cumprido rigorosamente o que determina a legislação eleitoral, sendo tratadas com absoluta transparência e declaradas ao TSE".
O grupo JBS, por sua vez, negou qualquer relação entre as doações feitas por empresas do grupo e os empréstimos tomados junto ao BNDES.

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quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

TSE fecha o álibi dos corruptos

Do Diário do Grande ABC

Artigo
A resolução do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que manda os partidos políticos manterem contas bancárias com a identificação de seus doadores e demais fontes de recursos e estabelece a obrigação de apresentar extrato mensal, parece-nos, mercê de sua seriedade, o começo da solução para a grande farsa até hoje usada pelos ladrões do dinheiro público que, descaradamente, dizem roubar para custear campanhas. A proibição das doações ocultas é grande avanço, pois retira do circuito as empreiteiras, os lobistas e outros interessados em obter obras públicas superfaturadas, como se tem visto nos escândalos político-financeiros descobertos nos últimos tempos. Acaba com o álibi de políticos e gestores corruptos, deixando claro que se desviarem é para pôr no próprio bolso.
Considerando-se que os parlamentares ganham salários e estrutura compatíveis para o exercício do mandato, no momento em que se estabelece a transparência no processo eleitoral, restará claro que qualquer dinheiro que venham a receber fora disso será indevido e fruto de pura corrupção ou ganância.
Da mesma forma que o Fisco age sobre empresas e cidadãos, todos os integrantes do governo e do meio político também precisam ser permanentemente verificados pois, enquanto cidadãos, são sujeitos à mesma legislação fiscal comum a todos os brasileiros. Há que se fechar o cerco sobre a movimentação financeira e a evolução patrimonial de todos, pois, dessa forma, se evitará que o dinheiro público, arrecadado com a finalidade de sustentar o governo e os serviços deste para a população, seja carreado para promover o conforto de poucos, acarretando o sofrimento a muitos.
Os recursos tecnológicos hoje disponíveis permitem esse acompanhamento e o encaminhamento à Justiça de todas as inconformidades para que sejam apuradas e reparadas.
As apurações da Operação Lava-Jato, do cartel do trem e outros escândalos que vêm emporcalhando a política nacional, prometem lances graves para os próximos meses. É preciso que todos os envolvidos – corruptores, corrompidos e lenientes – sejam identificados, processados e recebam a devida punição por sua ação ou omissão. Essa deve ser certeza em relação a todos aqueles que meteram a mão no dinheiro público. Com a transparência agora estabelecida pelo Tribunal Superior Eleitoral, eles não poderão mais dizer que desviaram para campanha...
Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente e dirigente da Aspomil (Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo).